Fonte: Uai. Data:
10/12/2013.
URL:
http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2013/12/10/noticia_arte_e_livros,149372/bibliotecas-conquistam-o-cidadao-em-bh-e-oferecem-mais-que-livros.shtml
Discretas,
elas são encontradas em toda a capital. De tão presentes na vida cotidiana de
BH, as bibliotecas correm o risco de passar despercebidas. Mas o público
comparece: algumas delas são campeãs de visitação. Este ano, nada menos de 28
mil leitores têm procurado, mensalmente, a Biblioteca Pública Estadual Luiz de
Bessa, na Praça da Liberdade. A maioria é estudante, tem de 17 a 30 anos e
ensino médio completo. As mulheres predominam.
Calcula-se
que uma centena de endereços de instituições públicas e privadas, com os mais
diversos perfis, receba leitores em BH. De acordo com especialistas, o fato se
deve ao bom trabalho desenvolvido em silêncio, há décadas. “Os números são
expressivos, mas precisamos ampliá-los. O ideal é termos uma biblioteca em cada
bairro”, afirma Marina Nogueira Ferraz, diretora do Sistema Estadual de
Bibliotecas Públicas Municipais de Minas Gerais. “Leitura é um direito do
cidadão. Quem domina o mundo letrado tem mais facilidade de se inserir no
mundo”, observa.
Fenômeno
pouco percebido, houve multiplicação e descentralização das universidades em BH
e várias regiões da capital ganharam bibliotecas importantes. A UFMG mantém em
caráter experimental duas unidades que funcionam 24 horas por dia nas
faculdades de Ciências Econômicas e de Letras, ambas no câmpus da Pampulha.
“Quem
chega a uma biblioteca universitária tem contato com um ambiente que pode mudar
os rumos de sua vida”, afirma Wellington Marçal de Carvalho, diretor do Sistema
de Bibliotecas da UFMG. Para ele, biblioteca de verdade deve ter instalações,
mobiliário e acervos adequados, além de pessoal qualificado. “Não pode ser um
amontado de livros e a placa dizendo que é biblioteca”, adverte.
Waney
Alves Reis coordena a biblioteca do Centro Cultural Salgado Filho, na Região
Oeste de Belo Horizonte. “Oferecemos o que as pessoas demandam. Quer livro
emprestado? Precisa fazer pesquisa? Quer conhecer literatura? Pode vir. Meu
público não sai sem resposta”, garante Waney, que cadastra de 14 a15 novos
leitores por mês, sobretudo de 8 a 16 anos. “É o nosso forte”, conta ela,
ressaltando a clientela acima dos 40 anos, com presença expressiva de
aposentados.
Waney
detectou uma novidade: adultos podem até não ser leitores, mas incentivam os
mais novos a ler. “Isso é muito positivo. Vivemos um momento difícil, marcado
pelo consumo de drogas e violência. A literatura traz algo mais para a vida, é
alívio para dia a dia complicado”, analisa.
Marly Eustáquio Diniz, de 63 anos, mora no Salgado Filho.
Ao fazer ioga no centro cultural do bairro, ela descobriu a biblioteca e
mergulhou na literatura brasileira. “Gosto de pegar romances para me distrair,
de ler livros que me deixam alegre e feliz”, conta. Ela adorou 'Memórias de um
fusca', de Origenes Lessa, e ficou impressionada com 'Memórias póstumas de Brás
Cubas', de Machado de Assis. Marly mantém o hábito de ler histórias para a
neta. “É importante ir colocando na cabecinha dela que leitura é importante,
inclusive para o desenvolvimento escolar”, explica.
“Minha vida atual é correr e estudar”, brinca o aposentado
José Adão Pereira Lopes, de 75, sentado numa das mesas do anexo da Biblioteca
Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade. Depois do curso de filosofia, ele está às
voltas com as aulas de francês. “Aqui, o material de consulta é amplo e mais
confiável que a internet”, garante. Rafael Peduti, de 17, estuda matemática na
mesa em frente à de Lopes. “Este local é lugar apropriado para estudar, até
melhor do que em casa. É só você e o livro, não tem distração, barulho”, elogia
o rapaz, às voltas com exames para o Instituto Tecnológico da Aeronáutica
(ITA).
Príncipe
A mineira Ana Paula de Paula, de 36, e a maranhense Elione
Cavalcante, de 44, conheceram-se ao levar os filhos a oficinas no Centro de
Cultura Lindeia Regina, na Região do Barreiro. Ambas se cadastraram na biblioteca.
“Até gosto de ler, mas só aqui comecei a pegar livros”, conta Ana, que adorou O
pequeno príncipe, do francês Saint-Exupéry.
Elione passava de ônibus diante do centro cultural quando
viu cartazes anunciando a biblioteca. “Vim porque gosto de ler e não tenho como
comprar livro. Leitura é viagem sem sair do lugar, você vai a outros mundos”,
explica. Além disso, trata-se de “diversão sem gasto”. Elione pegou emprestados
De primeira-dama a prostituta, de Adelaide Carraro, e um livro de Stephen King
que virou filme. Depois de ensaiar escrever um romance, a maranhense agora se
dedica à poesia.
Oferta descentralizada
Belo Horizonte conta com 23 bibliotecas públicas. É a
segunda cidade brasileira com mais equipamentos públicos dessa natureza. São
Paulo tem 132.
Há 15 unidades em centros culturais da capital mineira e em
três regionais da prefeitura, além da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de
Belo Horizonte (na antiga Fafich, no Bairro Santo Antônio) e a unidade que
funciona no Centro de Referência da Moda (na esquina de Avenida Augusto de Lima
com Rua da Bahia, no Centro). Aos domingos, funciona um Ponto de Leitura no
Parque Municipal.
A Fundação Municipal de Cultura calcula que anualmente os
equipamentos ligados à prefeitura atendem 160 mil pessoas, emprestam cerca de
40 mil livros e promovem cerca de 800 atividades, entre oficinas, rodas e
clubes de leitura e palestras de escritores. O acervo conta com 160 mil
volumes.
Em BH, o cidadão conta com bibliotecas no Espaço Cento e
Quatro, Museu de Arte da Pampulha, Museu Histórico Abílio Barreto, Arquivo da
Cidade de Belo Horizonte, Associação Brasileira dos Judeus Descendentes da
Inquisição, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha),
Sesc MG e a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, além de unidades ligadas
às universidades UFMG, Izabela Hendrix, Newton Paiva, Fead, UNA, UFMG, Fumec,
Uemg, PUC Minas, UniBH e Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.
LEITURA DINÂMICA
97% dos 5,4 mil
municípios brasileiros têm biblioteca pública
61% dos usuários no
Sudeste procuram bibliotecas para pesquisas escolares
835 dos 853
municípios mineiros contam com biblioteca pública, de acordo com o IBGE
2,12 bibliotecas por
100 mil habitantes na Região Sudeste
4,14 bibliotecas por
100 mil habitantes em MG, o terceiro estado no ranking nacional
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