Autoria:
Carolina
Rico.
Fonte:
Renascença. Data: 23/04/2014.
URL:
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=30&did=146258
A Biblioteca Nacional produz e
distribui livros para cegos desde 1969. Além de livros em braile, aqui também
já é possível requisitar livros em formato áudio e digital.
Uma voz feminina dá voz ao Quinto
Livro de Crónicas de António Lobo Antunes no “smartphone” de Carlos Ferreira,
responsável pela Área de Leitura para Deficientes Visuais da Biblioteca
Nacional. Cego de nascença, Carlos é Licenciado em Organização e Gestão de
Empresas e conta com as novas tecnologias para ler em braile ou ouvir um livro
digital em qualquer lugar.
Mais do que ouvir, Carlos gosta de
ler. Para tal, basta ligar ao telemóvel, via Bluetooth, um dispositivo portátil
com uma linha braile. À medida que lê cada frase, os pontos sobem ou descem
nesta linha, para formar novos caracteres.
É possível guardar centenas de
livros digitais na biblioteca de um “smartphone”. A Biblioteca Nacional oferece
uma cópia destes livros aos seus leitores, mediante pedido. Levá-los para fora
de casa, em formato braile, seria uma tarefa impossível. “Seriam precisos
camiões para transportar os meus livros digitais caso fossem de papel”, diz
Carlos Ferreira.
Transportar apenas um livro já é
difícil, isto porque os livros braile têm uma dimensão bastante superior aos
livros convencionais. Os Maias de Eça de Queirós, por exemplo, têm 21 volumes
de tamanho A4.
Com cerca de 2.900 títulos em
braile, correspondentes a mais de nove mil volumes, a Biblioteca Nacional
recebe por ano, em média, 2400 pedidos de requisição de livros neste formato.
Os volumes são enviados pelo correio de forma gratuita aos leitores cegos de
todo país.
Um cartão colocado na parte de fora
da embalagem transportadora inclui a morada do destinatário e da biblioteca
impressa em tinta e braile, para facilitar a devolução dos livros de forma
autónoma.
Ouvir um livro em casa também é
possível graças ao trabalho de dezenas de voluntários que gravam livros de
todos os géneros no estúdio da biblioteca.
As mais de 20 mil horas de gravação
incluem uma leitura cuidada, com numeração de página e descrição da capa,
imagens e fotografias, porque - diz Carlos - “alguém se lembrou de que os cegos
também tinham direito à imagem”.
Todos os nomes estrangeiros são
soletrados. “Um cego, mesmo que seja licenciado, que nunca tenha lido, em
braile, a palavra McDonalds, não vai saber como se escreve”, o ouvido engana,
explica Carlos.
As gravações fazem-se agora em
formato digital e podem ser enviadas para os leitores através da internet.
Converter para digital todos os livros gravados em áudio analógico, em cassetes
e bobinas, é um trabalho que ainda levará alguns anos a estar concluído.
Comemora-se hoje, quarta-feira, o
dia mundial do livro. Uma data para recordar a importância da leitura, quer
esta se faça com recurso à visão, audição ou ao tacto.
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