Fonte:
Portal Uai. Data: 15/08/2012.
Autor:
Sergio Rodrigo Reis.
Seja pela dedicação de leitores e colecionadores ou pelo
investimento de instituições públicas e privadas,
Minas Gerais ganhou ao longo das décadas
verdadeiras ilhas de excelência dedicadas ao conhecimento. Reunidos em
bibliotecas de referência, abertas gratuitamente ao público, estão milhares de
livros, revistas, periódicos e documentos, representativos de assuntos específicos
do saber humano, que vão de teologia à filosofia, da história à política,
passando ainda por temas como literatura mineira, economia, direito, saúde e
arte. Abertos a pesquisadores de todo país, esses lugares reúnem ainda dezenas
de obras raras, algumas delas únicas no país.
A Biblioteca Padre Vaz, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia (Faje), é bom exemplo. Com acervo de cerca de 200 mil exemplares,
sendo que só de livros possui 98 mil, o espaço, no Bairro Planalto,
impressiona. Os volumes – à exceção de livros raros cujo acesso exige
agendamento – podem ser consultados livremente. “O acervo é tão especial pelo
volume e qualidade das obras. Há desde livros clássicos até contemporâneos, o
que o torna bastante útil para pesquisadores. Somos referência latino-americana
em teologia e filosofia”, afirma o diretor, padre Elton Ribeiro.
Por uma feliz conjunção, a biblioteca veio para Minas
Gerais. Iniciada em Nova Friburgo (RJ), em 1923, pelo padre Leonel Franca,
fundador da Universidade Católica do Rio de Janeiro, então professor de
história da filosofia, a biblioteca começou pelas edições críticas dos grandes
filósofos. Em 1965, foi transferida para São Paulo, onde permaneceu por 10
anos, sendo ampliada com aquisições e doações de volumes de bibliotecas da
Companhia de Jesus da Região Sudeste. Em 1975, retornou ao Rio e, finalmente,
em 1981, foi transferida para BH, onde, por dedicação do professor padre
Henrique Cláudio de Lima Vaz, especializou-se ainda mais, com aquisições
importantes na área de filosofia. “Os jesuítas no
Brasil sempre tiveram formação específica em
filosofia e teologia. Quando retornaram ao país, em 1850, para formar novos
padres, fundaram bibliotecas com livros vindos da Europa. Cerca de 65% do nosso
material está em língua estrangeira, como francês, italiano, alemão e inglês”,
explica o padre Elton Ribeiro.
Pesquisa Foi também por paixão pela literatura segmentada
que surgiu o Instituto Cultural Amilcar Martins (Icam). O espaço na capital, no
Bairro Funcionários, tem como principal finalidade o estudo, a preservação e a
divulgação da história e da cultura de Minas. A iniciativa começou por acaso. “Estudante
nos anos 1970, iniciei uma coleção pessoal voltada para a história do estado.
Primeiro comprei os livros mais comuns, ao longo dos anos o acervo foi
crescendo e ficando mais sofisticado, com aquisições de obras raras e edições
mais difíceis”, lembra o fundador, Amilcar Martins. Quando atingiu 5 mil
títulos surgiu a ideia de tornar o conjunto de acesso irrestrito.
“É uma biblioteca de pesquisa, mas também de preservação de
acervo”, diz ele, orgulhoso dos cerca de 11 mil livros
adquiridos até então, parte deles bastante
raros, como o Triunfo eucarístico, de 1734, sobre a inauguração da Igreja do
Pilar, em Ouro Preto; ou o livro Prodigiosa lagoa descoberta nas Minas de
Congonhas do Sabará, contendo relatos de casos de curas dos que se banhavam na
Lagoa Santa, em 1749. “A maior dificuldade tem sido financiar os projetos, pois
como somos uma ONG, vivemos das leis de incentivo. É uma luta permanente.
Invisto em obras extremamente raras, são livros do século 18, vários deles já
não encontro mais no Brasil. Tenho comprado em Portugal, Nova York, Canadá. Não
ganho um centavo, mas é prazeroso”, conta Amilcar Martins, que, além de dirigir
o Icam, é professor universitário.
A maioria dessas bibliotecas, devido às peculiaridades dos
acervos, não recebem habitualmente grande público. “Os consulentes, em geral,
são pesquisadores, professores ou estudantes de várias partes do Brasil. Já
tivemos até do exterior”, conta Amilcar, que, nos últimos anos, tem
desenvolvido ações de difusão, como criação de uma Coleção Mineiriana, bem como
publicação de novos estudos mineiros e reedição de obras raras. A Biblioteca
Padre Vaz vive situação parecida. O número de usuários não é grande em
comparação com as outras dedicadas a assuntos mais amplos. Mesmo assim, tem seu
público. “Recebemos um bom número de estudantes, inclusive de outros estados”,
diz a coordenadora Zita Mendes Rocha.
Iconografia Dedicada exclusivamente às artes plásticas e
aberta à comunidade, a Biblioteca e Centro de Documentação e Pesquisa do Museu
de Arte da Pampulha (MAP) se tornou referência na área. A instituição, que
funciona dentro do museu, possui acervo de 5 mil publicações, materiais
bibliográficos e audiovisuais especializados em arte moderna e contemporânea,
sobretudo brasileira. É rica ainda em documentos textuais e iconográficos
registrando a história do MAP, incluindo as exposições e salões de arte. “É
especial porque tem um acervo rico, dedicado às artes visuais, que poucas
bibliotecas em BH possuem, e aberto ao público”, explica a coordenadora Celeste
Martins Fontana. Segundo ela, como a biblioteca é especializada numa área sem
tanta difusão no Brasil, a frequência não é grande. “Muitos não acessam porque
não sabem da existência. Poderia ter mais demanda”, avalia.
PARA CONHECER
Biblioteca Padre Vaz (Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia)
Acervo de 200 mil exemplares de livros de teologia e
filosofia. Aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 7h45 às 12h e das
13h às 17h45, na Av. Dr. Cristiano Guimarães, 2.127, Planalto. Informações:
(31) 3115-7016.
Instituto Cultural Amilcar Martins
Coleção Mineiriana de 11 mil obras, inclusive títulos raros
da história de Minas. Há ainda acervo de literatura do século 18, como a
primeira edição do Vila Rica, de Cláudio Manoel da Costa, edições de Marília de
Dirceu, inclusive a de 1810, considerada a mais rara, e ainda exemplares da
literatura moderna autografados. Fica na Rua Ceará, 2.037, Funcionários. Aberta
de segunda a sexta, das 9h às 18h. Informações: (31) 3274-6666.
Biblioteca e Centro de Documentação e Referência do
MAP
Cerca de 5 mil títulos dedicados à arte moderna e
contemporânea. Visitação: segunda a sexta, das 9h às 17h, na Av. Otacílio
Negrão de Lima, 16.585, Pampulha. Informações: (31) 3277-7956.
Bibliotecas da UFMG
A instituição possui 26 bibliotecas setoriais. Entre as
coleções especiais estão a Memória Intelectual da UFMG, Obras Raras, coleções
pessoais (Henriqueta Lisboa, Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior, Abgar
Renault, Curt Lange) e Mineiriana.
Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha). Informações e horários de funcionamento
de cada unidade: (31) 3409-4611.